Entre o digital e o real: por que a política ainda depende do corpo a corpo – Parte II*




Itamargarethe Corrêa Lima
Jornalista, radialista, advogada, pós-graduada em Direito Tributário, Penal e Processo Penal; pós-graduanda em Direito Civil, Processo Civil e Docência do Ensino Superior.


A segunda parte desta reflexão aprofunda o debate iniciado na semana passada, quando se analisou a distância entre a performance digital e a adesão política efetiva. A política, apesar dos avanços tecnológicos, continua sendo uma experiência essencialmente presencial.

As redes sociais alimentam a vaidade do pré-candidato, mas não substituem o encontro direto, a escuta ativa e a convivência comunitária. A imagem seduz de imediato, o convencimento, porém, nasce da leitura atenta, do diálogo e da experiência concreta entre representante e representado.

A realidade eleitoral brasileira demonstra que o corpo a corpo permanece como eixo estruturante da construção política. Visitas, caminhadas, reuniões de bairro e conversas olho no olho produzem algo que nenhuma publicação entrega: confiança.

O feed pode prender o olhar por segundos, mas é a presença física que consolida vínculo, reputação e credibilidade. A estética impressiona, entretanto é o contato humano que transforma simpatia em adesão, além do interesse em apoio e, por derradeiro, a intenção em voto.

Também persiste a ilusão de que basta investir no virtual/redes para garantir visibilidade a baixo custo. Na prática, sem técnica, método e regularidade, o investimento digital se torna disperso e pouco eficiente.

Em inúmeras campanhas, o conteúdo nasce mais do desejo de aparecer do que da necessidade de convencer. E qual o resultado prático? Um gasto financeiro mal direcionado, desgaste de imagem e narrativa frágil.

Nesse contexto, o papel do profissional qualificado precisa ser reafirmado. Comunicação política exige estratégia, análise, escrita precisa e compreensão do comportamento social.

É esse profissional que transforma informação em narrativa, dados em argumento e presença digital em autoridade. Quando essa etapa é subestimada, o que sobra é irrelevância, sobretudo em cenários competitivos.

Do ponto de vista acadêmico, o pré-candidato funciona como um produto político, e na grande maioria de difícil aceitação.
A crise de confiança nas instituições e a saturação da disputa eleitoral criam um ambiente em que nenhuma fotografia elaborada é capaz de resolver por si só.

Exposição não significa credibilidade, e visibilidade não se traduz automaticamente em voto. O corpo a corpo legitima a imagem, não o contrário.

Essa dinâmica explica por que tantos nomes que brilham nas redes desaparecem no ciclo seguinte. Sem presença real, trabalho de base, diálogo contínuo e narrativa consistente, tornam-se os conhecidos “políticos de um mandato só”, digo, surgem no feed, somem das ruas.

A síntese permanece clara. A imagem fascina, a leitura convence e o corpo a corpo consolida. As redes são ferramentas poderosas quando utilizadas com método e propósito, sem isso, não passam de espelhos da vaidade.

Ao fim, persiste a pergunta que inquieta e que deve orientar qualquer projeto político sério. O apoio exibido no Instagram existe nas ruas ou é apenas mais um filtro da política contemporânea?

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